12 abril 2013

RCA publica livro sobre Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas na Amazônia Brasileira


Gestão territorial e ambiental em terras indígenas da Amazônia brasileira: os percursos da Rede de Cooperação Alternativa é o título do primeiro livro organizado pela RCA. Focado na experiência das organizações membro da RCA de realizar intercâmbios interculturais, o livro sistematiza discussões ocorridas durante três viagens organizadas especificamente para tratar do tema da gestão ambiental e territorial das terras indígenas.  Destacando as manifestações dos participantes durante e depois de suas viagens, a publicação revela a virtude da atividade de intercâmbios na delimitação da trajetória dos participantes em seu engajamento pela  sustentabilidade .
Capa
 Tema do livro - A partir de três viagens promovidas pela RCA, entre 2007 e 2010, em diferentes terras indígenas na Amazônia brasileira, ,em que um grupo de indivíduos desloca-se de sua região para conhecer outros povos, o livro enfoca projetos, iniciativas e contextos regionais onde a pressão sobre recursos naturais, a desatenção das políticas públicas de saúde e educação diferenciada para povos indígenas, a pressão fundiária, a convivência com vizinhos não índios, entre outras questões complexas, são a pauta das conversas. As visitas, no entanto, não direcionam os olhos dos viajantes apenas sobre os problemas, mas sobre as alternativas que cada comunidade trabalha em busca de soluções.

Em 2007, a RCA promoveu um intercâmbio na região do Rio Negro (AM), seguido por um encontro de sistematização, focado na gestão territorial indígena, que permitiu não só a troca de informações, mas a sistematização de experiências e de dificuldades comuns aos diferentes contextos regionais e culturais de origem dos participantesIsso possibilitou a identificação de pontos comuns e divergentes nas estratégias e metodologias de trabalho empregadas por suas organizações membro. Os participantes foram para o município de São Gabriel da Cachoeira (AM) e lá se dividiram em três grupos que viajaram por rios distintos, com o objetivo de conhecer as estratégias de gestão territorial e ambiental implementadas pela Foirn e pelo ISA naquela região. Visitaram os rios Uaupés, Içana e Tiquié e no retorno os 35 participantes discutiram e sistematizaram suas vivências.

Em 2009, a RCA ampliou a discussão promovendo um novo intercâmbio para o Acre com o tema “Formação para a gestão territorial e ambiental das Terras Indígenas”, que reuniu 40 pessoas - entre lideranças, agentes ambientais e professores indígenas provenientes de 18 povos distintos, bem como assessores e agentes diretamente envolvidos com o tema pertencentes a 17 organizações indígenas e indigenistas. Todosintegram a rede e/ou mantêm parceria com suas organizações membro. Os participantes viajaram para a terra dos Ashaninka do rio Amônea, visitaram o Centro de Formação Yorenka Ãtame (na cidade de Marechal Taumaturgo) e conheceram de que maneira esse povo, com uma longa história de contato com extrativistas , desenvolveram estratégias de convivência que, atualmente, se traduz em ensinar aos não índios os meios mais eficazes de restaurar e manejar a floresta.  No retorno a Rio Branco sistematizaram as informações obtidas com a observação das estratégias de formação envolvidas na gestão das terras indígenas e seu entorno. Um documento com sugestões para uma política de gestão territorial e ambiental nas terras indígenas foi elaborado e divulgado pelos participantes.

Para concluir esse ciclo temático, a RCA promoveu, em 2010, um intercâmbio para a região do Parque Indígena do Xingu (MT), com o intuito de por em discussão a questão da gestão do entorno das terras indígenas. O Parque Indígena do Xingu foi escolhido por estar enfrentando uma crescente deterioração das condições ambientais do seu entorno, resultado do desmatamento intenso praticado pelas fazendas de soja e de criação de gado, da poluição e do assoreamento dos rios formadores, o que resulta no afloramento de conflitos ambientais. Ao Parque foram 37 participantes, representando 20 povos indígenas  que residem em 13 terras indígenas distintas. Durante 14 dias esse grupo visitou instituições e equipamentos sociais na cidade de Canarana, fazendas de diferentes portes nos limites do PIX, bem como percorreu os rios Culuene, Xingu e Suiá Miçu, passando pelo Alto, Médio, Baixo e Leste Xingu.Aldeias dos povos Kuikuro, Yawalapiti, Ikpeng, Kawaiwete e  Kĩsêdjê foram percorridas, além das coordenações locais da Funai nas aldeias Pavuru, Diauarum e Wawi. A maioria do grupo era composta por jovens que saíam de suas áreas de residência e atuação pela primeira vez, mas os intercâmbios sempre trataram de integrar lideranças mais velhas nas comitivas de viagens. Conhecer de perto os povos xinguanos, que já conheciam pela mídia, foi muito valorizado sobretudo porque a oportunidade de comparar a realidade local com suas próprias diferenças e semelhanças de contextos e metodologias, desmistificou a ideia de intocabilidade do Parque no contexto indígena brasileiro. Mais um documento sistematizando as discussões ocorridas durante a viagem  foi elaborado e divulgado pela RCA.

A realização desse conjunto de intercâmbios coletivos propicia, além de uma rica troca de experiências entre povos indígenas da Amazônia, o conhecimento  acerca de diferentes modalidades de gestão territorial e do seu entorno e a sistematização de idéias e práticas com a colaboração autoral de várias lideranças indígenas. A finalidade da RCA, ao promover essas trocas, é influenciar as políticas públicas voltadas à proteção das terras indígenas e das florestas brasileiras.

Sobre o livro - A maior parte dos textos apresentados no livro foi retirada dos documentos preparados para orientar as viagens de intercâmbio e dos relatórios produzidos pelos participantes.. Eles somam uma dezena de volumes encadernados que compilam textos e apresentações sobre os diferentes povos que participaram das viagens . As aberturas e fechamentos dos capítulos foram compostos com textos editados desse conjunto e complementados com informações retiradas dos sites, boletins e artigos escritos pelas organizações membro da RCA.

O livro está organizado em cinco capítulos que refletem os assuntos mais debatidos pelos viajantes nas rodas de conversas para abordar o tema da gestão territorial e ambiental das terras indígenas visitadas: território, no sentido de ocupação e vigilância, articulação, considerando a relação estratégica com os moradores do entorno, alimento, visto como segurança alimentar, formação, tratado a partir da educação formal direcionada a profissionalizar indígenas, gerações, em função dos impasses advindos do convívio entre a tradição e mudança de hábitos. Os três documentos públicos elaborados pelos participantes dos intercâmbios, sistematizando ideias e propostas para a gestão dos territórios indígenas, divulgados após a realização de cada intercâmbio, são apresentados na parte final do livro.

Com essa estrutura, o fio condutor da publicação não é esgotar o assunto em pauta, mas demonstrar como as atividades de intercâmbios promovidas pela RCA enriquecem e subsidiam o indigenismo e a política indígena em seu trabalho de defender e resguardar a permanência das populações indígenas nas terras reservadas para seu usufruto.

O livro, que foi elaborado com o intuito de influenciar políticas públicas bem como difundir ideias para outros contextos socioculturais que aqueles onde foram geradas, conta com uma tiragem de 3.000 exemplares e começa a ser distribuído em abril. Sua publicação contou com apoio integral da Rainforest Foundation da Noruega.