16 outubro 2010

Gestão de Patrimônios Culturais Indígenas é discutida no Museu do Índio

Na tarde do último dia 30 de setembro, encerrou-se no Rio de Janeiro, nas dependências do Museu do Índio, o Encontro Temático “Gestão de Patrimônios Culturais Indígenas: compartilhar conhecimentos construindo elos”. Promovido pela Rede de Cooperação Alternativa – RCA Brasil, em parceria com o Museu do Índio da Funai, o encontro contou com a participação de  35 representantes das organizações indígenas e indigenistas que compõem a RCA, que apresentaram e discutiram experiências de valorização e gestão cultural conduzidas entre os povos indígenas do Xingu, Vale do Javari, Rio Negro, Timbira, Amapá e Roraima.

RCA RJ 116

O Encontro foi aberto pelo Secretário-Executivo da RCA, o antropólogo Luís Donisete B. Grupioni, que marcou a importância de reunirem num mesmo encontro diferentes experiências inovadoras de gestão cultural, procurando identificar pontos em comuns e dificuldades, com vistas à sistematização de propostas para as políticas culturais dirigidas aos povos indígenas, e pelo diretor do Museu do Índio, José Carlos Levinho, que apresentou o Programa de Documentação das Línguas e Culturas Indígenas desenvolvido por aquela instituição. Nos quatro dias seguintes, os participantes do encontro, por meio de apresentações, plenárias e trabalhos em grupo puderam conhecer e discutir diversas iniciativas de gestão cultural. Por regiões, foram apresentadas e discutidas iniciativas conduzidas em diferentes frentes. A Foirn e o ISA trouxeram a experiência de registro, pelo Iphan, da Cachoeira da Onça, no Rio Negro (AM) e do processo de retomada cultural que a envolveu. A Hutukara apresentou iniciativas de valorização cultural na região, com gravação de CDs e retomada de festas, além de apresentar seu programa de educação, ancorado no fortalecimento da língua Yanonami. O CTI apresentou os programas de pesquisas indígenas conduzido no Vale do Javari e a constituição do acervo de referência cultural Timbira, no Centro Timbira Penxwyi Hempejxà. A Atix apresentou um projeto de documentação musical do povo Yudja e de valorização de conhecimentos de manejo dos Kisendje. O Apina e o Iepé apresentaram o programa de formação de pesquisadores Wajãpi e os trabalhos do Centro de Documentação Wajãpi, além do trabalho de valorização cultural junto às mulheres do Tumucumaque. O Opiac e a CPI-AC apresentaram o programa de pesquisa dos conhecimentos tradicionais que subsidiou a formação de professores e agentes agroflorestais indígenas no Acre. Um documento base com um resumo dessas apresentações foi preparado e distribuído previamente ao Encontro.

Durante os quatro dias do Encontro, os participantes expuseram essas diferentes experiências de valorização cultural, discutiram metodologias e estratégias de trabalho, e identificaram interesses e problemas comuns na gestão de patrimônios culturais indígenas. A constatação de que a praticar a própria cultura é a melhor forma de mantê-la e revitalizá-la, ensejou diversas discussões.  As dificuldades no diálogo entre gerações e as diferentes expectativas de jovens e velhos em relação ao próprio conhecimento foi outro ponto muito discutido no Encontro. A importância de garantir e de reavivar os contextos tradicionais de transmissão cultural foi outro aspecto ressaltado nos debates, juntamente com discussões sobre os novos espaços e oportunidades que se tem criado nos últimos anos, por meio de centros culturais, museus indígenas e apresentações culturais, com o uso de novas tecnologias, que tem permitido o registro, a pesquisa e a organização de acervos de referência cultural a partir dos interesses das próprias comunidades indígenas. Documentação de práticas culturais, constituição de acervos de referência cultural, formação de pesquisadores indígenas, construção de centros de documentação, registros e difusão de conhecimentos foram estratégias apresentadas e debatidas pelos participantes. Ao mesmo tempo em que se constatava o crescente interesse das comunidades indígenas por garantir suas formas de expressão cultural, percebia-se, como dificuldade comum, a inexistência de políticas públicas que possam assegurar apoio financeiro para a realização de projetos e de iniciativas de mais longo prazo, como os centros de documentação ou programas de formação de pesquisadores indígenas.

Na avaliação do encontro, os participantes afirmaram a importância de se promover momentos de troca de experiências de valorização e gestão cultural como esse, e propuseram sua continuidade, por meio de encontros focados em temáticas específicas, como programas de formação de pesquisadores indígenas e metodologias de constituição e salvaguarda de acervos culturais.